quarta-feira, 27 de agosto de 2008

MITOS SOBRE A ESTERILIZAÇÃO...

Mito: Esterilizar cães e gatos é anti-natural. Devemos deixar a Natureza seguir o seu curso.

Não seria também anti-natural comerem ração, irem ao veterinário, tomarem banho, dormirem dentro de casa? Os animais de estimação são criados por seres humanos para serem seus companheiros. Foi a nossa interferência na natureza que criou esta superpopulação de animais. Nós domesticámos esses seres indefesos e somos responsáveis pela morte de milhões deles anualmente. Isto, sim, é anti-natural! Esterilizar é uma solução humanitária para o problema que nós mesmos criámos.

Mito: As fêmeas devem ter crias pelo menos uma vez e os machos têm necessidade de acasalar.

Não há nenhuma evidência médica que prove isso. Procriação e acasalamento não significam saúde. A vida sexual dos animais segue ritmos biológicos e padrões instintivos, é apenas uma questão hormonal, e não psicológica. Ou seja, o animal sente vontade de copular por estímulos hormonais, e não por necessidade ou porque sinta prazer.

Mito: Eu sei que posso encontrar um bom lar para cada filhote.

A triste realidade é que não há lares suficientes nem lares responsáveis para todos os animais que nascem. A maioria dos cães e gatos acabam nas ruas, abandonados, maltratados. Acabam por ser mortos em laboratórios ou faculdades, ou ainda recolhidos pelos canis/gatis municipais que também os levarão à morte. Repare que muitos dos animais que se encontram em abrigos/canis/gatis foram entregues pelas próprias pessoas que os tinham a seu cuidado. E, mesmo que lhes consiga encontrar um lar, como saber se a futura família serão responsável e se evitará a sua procriação? Os filhotes crescerão e terão outros filhotes, agravando o problema; e você não vai estar lá para garantir um lar para todos! Além disso, para muitas pessoas, um animal só é atraente e adorável enquanto é filhote, ou enquanto não destrói o sofá da casa nem faz xixi no tapete, ou enquanto não fica doente. Mais ainda, um animal a mais que você reproduza estará a roubar o lugar a um que já nasceu e que provavelmente será sacrificado por falta de uma família que o adopte.

Mito: Não é uma ninhada que faz a diferença.

“Apenas uma ninhada” faz a diferença, sim. “Apenas uma ninhada” contribui para a sobrepopulação de animais, sim. Em menos de um ano, todos os filhotes da ninhada poderão ter ninhadas próprias, que por sua vez darão origem a mais ninhadas. É um círculo vicioso. Todos os dias, milhares de cães e gatos saudáveis têm de ser eutanasiados – e cada um desses milhares de animais veio “apenas de uma ninhada”.

Mito: Os cães/gatos esterilizados são menos másculos.

Os animais não têm o conceito de ego ou de identidade sexual. A esterilização não altera a personalidade do seu animal. Ele não sofrerá nenhuma crise de identidade nem terá nenhuma reacção emocional quando esterilizado. Não se esqueça que os cães e os gatos não são seres humanos. A vida sexual dos cães e dos gatos é desprovida de qualquer romantismo. Eles procriam por instinto. E não, eles não se “importam” de ser esterilizados.

Mito: Não temos de esterilizar os machos porque não são eles que dão à luz.

Certamente que não é a “concepção imaculada” que explica as gravidezes de cadelas e gatas. As fêmeas não engravidam sozinhas. É preciso um macho e uma fêmea para gerar uma ninhada. Além disso, enquanto que as cadelas só costumam ter duas ninhadas por ano e as gatas três ninhadas por ano, os machos podem fecundar as fêmeas várias vezes por dia! Por outro lado, uma grande percentagem dos animais atropelados consiste em machos não esterilizados, e que estão em busca de fêmeas não esterilizadas.

Mito: Os anticoncepcionais para cadelas e gatas são tão bons quanto a esterilização.

Algumas pessoas pensam que podem substituir a esterilização por pílulas ou injecções de anticoncepcionais, mas isso não é de todo recomendável. Tal até pode parecer uma alternativa atraente a curto prazo, mas este método de contracepção prejudica a saúde da sua gata/cadela, pois pode causar o desenvolvimento de tumores e infecções uterinas. Além disso, este método não é totalmente seguro e, a médio prazo, fica bastante mais dispendioso do que o preço a pagar por uma esterilização.

Mito: É importante que as crianças assistam ao “milagre do nascimento”.

A maioria das fêmeas precisa de privacidade durante o parto, pelo que não é uma boa altura para assistir. Na verdade, muitas fêmeas procuram refúgios escuros e sossegados, longe da nossa vista, e dão à luz durante a noite. Uma lição bem melhor para as crianças é incutir-lhes sentido de responsabilidade, explicando-lhes por que motivo o seu animal não deve procriar e ensinando-lhes que um animal de companhia é um compromisso para toda a vida e que os animais merecem o nosso respeito, amor e compaixão.

Para ensinar às crianças o “milagre do nascimento”, mais vale alugar um vídeo bem documentado sobre esse assunto. Cada nova ninhada que nasce contribui para as centenas de cães e de gatos não desejados que sentem o “milagre da morte” todos os dias nos canis e gatis do nosso país.

Mito: O meu animal é de raça definida e, como tal, devo/posso acasalá-lo.

Em primeiro lugar, os animais não devem ser tratados como se de uma mercadoria se tratassem.

Em segundo lugar, tal como o seu animal é de raça definida, também um em cada quatro animais que são entregues em abrigos/canis/gatis são de raça definida. Enquanto os animais nos abrigos/canis/gatis esperam e desesperam por encontrar uma família, não existe qualquer urgência ou necessidade em que mais pessoas criem animais. Experimente telefonar para um abrigo/canil/gatil e perguntar quantos animais já mataram esta semana. Muito provavelmente não acreditará na resposta...

Em terceiro lugar, a criação profissional de animais de determinada raça é um processo que, além de uma grande responsabilidade, envolve anos de estudo das características da raça, e jamais deverá ser tentado por alguém inexperiente. Determinados animais poderão ter características indesejáveis que passam para os seus descendentes, sendo por isso totalmente desaconselhável o seu acasalamento. A criação de animais comporta muitos gastos (medicações para a fêmea e os filhotes, nutrição especial, vacinas, desparasitação, avaliação genética, testes laboratoriais, limpeza, sociabilização, entre outros). Isto sem contar com o tempo gasto, que é algo que nunca se recupera.

Mito: O meu animal é muito especial e, se o esterilizar, nunca hei-de ter outro igualzinho a ele.

Um cão ou um gato até podem ser um excelente animal de companhia, mas tal não significa que os seus filhotes serão uma cópia idêntica. Até porque também temos de ter em consideração as características do outro progenitor; não dá para saber se a ninhada sairá parecida com o pai ou com a mãe. Além disso, os filhotes poderão herdar as características de algum avô ou bisavô que possua alguma degeneração, e da qual você nem tenha conhecimento. Mesmo os criadores profissionais, que seguem gerações de uma descendência, não podem garantir que obterão as características que pretendem de uma ninhada em particular. As suas probabilidades são ainda mais remotas. Na verdade, toda uma ninhada poderá herdar todas as piores características de um ou dos dois progenitores. Se desejar assim tanto um filhote, faça por favor uma visita ao abrigo de animais mais próximo e salve uma vida que foi abandonada.

Mito: O meu animal nunca sai sozinho de casa, pelo que não preciso de esterilizá-lo.

Podem ocorrer acidentes mesmo em nossa casa, já que outro animal poderá encontrar uma forma de saltar o muro do jardim/quintal, por exemplo. Por outro lado, o seu animal poderá aproveitar uma porta ou um portão aberto para fugir. Quantos cães não fogem ou desaparecem de suas casas? Além disso, os benefícios de saúde da esterilização, por si só, justificam a esterilização plenamente.

Mito: Durante o cio, mantenho macho e fêmea separados. Eles não têm de ser esterilizados, pois assim não é possível a fêmea engravidar.

Separar um macho de uma fêmea em cio não é tarefa fácil. Os machos são capazes de quase tudo para chegar perto de uma fêmea em cio, desde pular muros, abrir portões ou arrombar portas. Respondendo ao instinto, a própria fêmea pode encontrar uma forma de fugir em busca de um macho para acasalar. Além disso, o cio pode durar até três semanas. Já imaginou o que é ouvir constantemente choros e evitar tentativas de aproximação dias e dias a fio? Para além de ser desgastante para os animais, é também bastante cansativo conseguir manter-se os animais separados. O mínimo descuido pode dar origem a uma gravidez indesejada. Por outro lado, os benefícios de saúde da esterilização, por si só, justificam plenamente a esterilização.

Mito: O meu cão é de porte pequeno e a minha cadela é de porte grande (ou vice-versa). Não é necessário esterilizá-los nem sequer separá-los quando a cadela estiver em cio, pois eles assim não conseguem acasalar.

Mesmo sendo de portes diferentes, macho e fêmea podem conseguir acasalar. Por exemplo, uma fêmea de porte grande poderá deitar-se para acasalar com um macho de porte pequeno. Não dá para facilitar. Além disso, como temos referido, os benefícios de saúde da esterilização, por si só, justificam-na plenamente.

Mito: O meu animal vai ficar gordo depois da esterilização.

Poderá ocorrer um aumento do apetite devido à alteração hormonal, mas o seu animal só engordará se ceder aos seus caprichos e aumentar a quantidade de comida. Qualquer animal que tenha uma dieta balanceada e faça exercícios regularmente não ficará gordo.

Mito: Se for esterilizado, o meu cão vai perder o instinto de protecção.

A esterilização não altera a personalidade do seu cão nem afecta o seu instinto natural de protecção e guarda da casa e da família. Na verdade, sendo esterilizado, o seu cão terá menos tendência a fugir. Repare que o seu cão não o poderá proteger se estiver a vaguear pelas ruas à procura de fêmeas em cio.

Mito: O comportamento de um animal altera drasticamente após a esterilização.

À excepção de, no caso das cadelas, estas se poderem tornar um pouco mais agressivas, na grande maior parte dos casos, as únicas alterações de comportamento que verá serão positivas. Os animais esterilizados têm muito menos tendência a fugir, ficando assim mais caseiros e longe dos diversos perigos das nossas ruas. Os machos esterilizados brigam menos por fêmeas. Os gatos esterilizados tendem a reduzir a marcação de território com urina ou deixam mesmo de apresentar este comportamento, consoante a idade em que foram esterilizados. Se forem esterilizados antes de desenvolver o hábito de marcar território, este comportamento nunca surgirá.

Mito: Se esterilizado, o meu animal pode vir a sofrer de problemas urinários ou de incontinência urinária.

Ainda pouco se sabe relativamente aos efeitos das hormonas sexuais sobre o sistema urinário dos cães e dos gatos. No entanto, sabe-se que o aumento da predisposição a obstrução uretral em gatos anteriormente atribuído à esterilização ainda merece maiores esclarecimentos. Por exemplo, a incidência de obstrução uretral é a mesma em gatos esterilizados ou não esterilizados.

Apesar de não ser frequente, a incontinência urinária em cadelas esterilizadas precocemente (antes do primeiro cio e, mais particularmente, logo nos primeiros meses de vida) poderá efectivamente ocorrer, de semanas a anos após a esterilização, sendo maioritariamente nocturna. Vários problemas anatómicos e fisiológicos estão associados a este problema, não se tendo ainda descoberto uma causa definida. O tratamento da incontinência consiste normalmente na administração de fenilpropanolamina. No entanto, existem muitos casos de sucesso de tratamento da incontinência associada à esterilização com sépia, um remédio natural também utilizado para tratamento de problemas hormonais e de incontinência em mulheres.

Contudo, independentemente das causas possíveis da incontinência associada à esterilização, tal não deverá ser encarado como um motivo para não esterilizar. Não só porque está associada a uma esterilização precoce (ou seja, terá probabilidades de ocorrer no caso de esterilizar o seu animal antes do primeiro cio), mas também porque ocorre muito menos frequentemente do que a piometra, o cancro mamário e a gravidez indesejada – tudo consequências possíveis de não esterilizar uma fêmea e que poderão ser fatais.